Aristides e o saco de feijão

 


Ao chegar à Rodoviária de BH, Aristides ainda conferiu se o feijão estava puro e sem bichos


Ele é gente boa pra valer, apesar de pão-duro, daqueles que são expulsos do exército por não fazerem continência. Tem um semblante de chinês, mesmo detestando o regime criado por Sun Yat-sen; casou-se em São Sebastião do Rio Preto com uma das filhas de um fazendeiro muito estimado, famoso e rico


Aristides (não precisa dizer o nome porque todo mundo conhece) cuida de sua gleba de terreno muito bem cuidado na localidade de nome atraente: Banqueta, talvez vizinho de Sebastião Saturnino, hoje triunfando na Bahia de Todos os Santos. Ele trabalhou durante algum tempo para a revista DeFato, terceirizado a montagem de páginas, montando fotolitos. 

Vamos ao que interessa agora. Aristides é meio pão-duro, já disse isso. Tal proeza é peculiar nas pessoas que se enriquecem, mas ele nasceu assim, muito comum pelos lados da terra que tem o apelido oficial de Gambá. Vez por outra, nosso herói desce a serra e vai à terra dos “sariguês" rever os amigos e trazer algum produto plantado por ele. Desta vez, o chinesinho iria receber um saco de feijão, legítimo, pretinho, produzido em seu pedaço de torrão. Ligou para um de seus funcionários e lhe pediu o seguinte: “Mande um saco de feijão pelo ônibus; vá à agência da empresa Saritur e pergunte o valor cobrado pelo transporte.

Dali a meia hora volta o empregado ao telefone: “Custa R$ 52,50 o despacho para ser entregue na garagem da empresa, no Anel Rodoviário, em BH”.

Aristides ficou bravo: “Volte lá e pergunte de quanto é o preço da passagem de São Sebastião a Belo Horizonte. O rapaz já sabia: “A passagem custa R$ 39,00”.

Aristides foi enfático: “Vai lá e compre uma passagem, a última que estiver vaga; em seguida, pegue o feijão e coloque no lugar do passageiro; me passe o número da poltrona do feijão; só isso”.

Tudo feito. E bem feito. O feijão viajou sem problemas. Tomou uns solavancos mas chegou intato. Foi informado apenas que um senhor, não tendo lugar para seu filho de 5 anos, alojou-o em cima do saco do Aristides. Sem problemas.

E esse, o “fotoliteiro”, esperou na Rodoviária da Capital como se esperasse um ente querido. Esfregou as mãos quando viu seu estimado saco exatamente no lugar informado e calculou que fizera uma economia de exatos 13 reais. E ainda não precisou ir ao Anel Rodoviário buscar a encomenda. Pensou consigo mesmo: “Não pensem que o Aristides é bobo!”

Este é um caso verídico que Aristides gosta de contar. E que faz um bom tempo. Ri muito e acrescenta  detalhes ao fato, inclusive que a sua alternativa  seria copiada por centenas de pessoas que viajam de ônibus por este Brasil afora.

José Sana
Em 27/07/2025
Foto: Original

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