UM DIA PARA O DIÍ

 


Baile de formatura. De quem? Tanto faz...

Para início de  conversa, peço aos meus cinco filhos e aos dez netos que não tenham nem um tantinho de ciúme por iniciar as minhas referências ao quarto filho. Se Deus me der tempo e lucidez —  espero que sim —  pretendo escrever cinco livros, um para cada. Devia começar com a primeirinha, mas hoje o aniversário é do quarto filho


Hoje é 2 de agosto de 1979. Hoje você vai nascer para o mundo, apesar de estar meio sem vontade, parece. Dr. Eduardo de Araújo Costa, seu médico, está com a faca afiada dependurada na prateleira. 


Flavoca já tinha nascido fazia quase 3 anos  e normalmente, como nasceram dez na casa de Dona Zélia e Senhor Niquito e  mais dez em Dona Itália e Tãozinho do Godó.


 Mas você resolveu fazer uma pirracinha (a pirraça é a arma dos que não têm defesa). Então, você atravessou-se no útero de sua Mãe, pegou um violão e cantou bem alto: “Daqui não saio, daqui ninguém de tira...”


Mesmo assim, foi para a mesa de cirurgia com a Mãe (ser mãe é ser mãe, nada se compara) . Sem se importar, foi na maciota, dentro da barriga de uma mãe menor que todo mundo.


Moramos no Bairro Campestre — Rua do Outo número 8 — naquele alto quase chegando ao Hotel Pousada dos Pinheiros. Já de manhã, porque era uma sexta-feira, meu amigo e vizinho Quintiliano Uths de Oliveira, ao pegar o ônibus para o trabalho, fez-me a pergunta mais que discreta: “É hoje, né?” Respondi:  “É, sim, mais à tarde!”. Estava tremendo como uma vara verde, apesar de já ter sido pai de três bem nascidos.


Estou agora no Hospital Carlos Chagas. Todas as ultrassonografias tinham, ao longo dos meses, feitas pelo dr. Antônio Leal que atestava que o rapaz estava virado, ao contrário. Quem diria que seria ele seu sogro e faria, a seguir, as “ultras” de Júnior também?


E eu não ficava quieto. Pra lá e pra cá, em nossa casa estavam Dona Zélia e Marlene. Ambas já tinha um monte de filhos. Marlene só Marlos, Mayra chegaria em novembro. Enquanto o pau do nervosismo que brava se acelerava, a pé, descia e subia os morros do HCC não sei quantas vezes. Plantei lá no HCC. Uma enfermeira, que não era Cacá (Maria do Carmo),  parteira de Érico, me deu a notícia: “Nasceu um menino robusto, chorou muito pouco e, como você pediu, não tem a orelha grande”. Ganhei na loteria.


Passei na Igreja do Campestre e rezei, aos atropelos, uma Ave-Maria toda errada e saltada. Quando subia o morro final, lá de cima Marlene me gritou; “Dr. Eduardo estava no telefone e queria falar com você. Ele queria saber se era para ligar as trompas, ou a trompa (nem sei quantas uma mulher tem) e eu disse que sim, que você e Marlete estavam satisfeitos com duas moças e dois rapazes”. Coitada!


Se antes estava nervoso, agora fiquei muito mais. Não  queria ligação nenhuma de tromba nem de eletricidade, queria mais um filho para desempatar. Marlene ficou brava comigo e minha resposta a ela foi esta: “Vem  ainda um rapaz e quem vai batizá-lo será você e seu marido, o Carlos”. 


Cheguei à casa e peguei o telefone. Chamei Dr. Eduardo e, ele ainda queria falar comigo, e lhe disse claramente: “Não quero que o senhor ligue nada e queria até que fosse gêmeo, mas não deu”. Ele riu e me recebeu no quarto com o morenaço todo cheio de vida, carrego e  choro, e não deixei ninguém ver. Fiz isso desde a primeira filha, com ela foi copiosamente, desculpem-me os outros, era a pioneira, sonhada fazia tempos. E refleti: o que há de mais sagrado na vida chama-se mãe, pai, filhos, netos...


Parabéns, André, por vários motivos: por ter permitido que nasceu esse seu irmão Júnior (até nisso Marlene implicou comigo, mas quem escolheu seu nome foi Marlete, contra a minha vontade; parabéns por ser um menino que eles diziam que seria “encapetado” e não é; parabéns por ter sabido escolher a esposa, como os outros souberam, Clarissa é um brinco de ouro; parabéns, pelas duas meninas, que adoro de todo o coração; parabéns pelas cunhadas (Ana Flávia e Júlia); parabéns pelo Leal e Zilda, que são gente fina; parabéns por terem uma filha grandona chamada Lili; e parabéns até pela cachorrada e saudades sabe de quem? De uma figura chamada Vidinha que, se não fosse ela e minha sobrinha Bethânia  você ficaria sem uma moto fora do tempo.


No meio de lágrimas agradeço a DEUS pelos cinco filhos, dez netos e a superação de tudo na vida. Mas fico com você que, até o dia de hoje, como os outros, nunca me decepcionou.


Seu pai

Em 2 de agosto de 2025.

P.S. 1. Se tiver erros, como ocorreu na mensagem ao Júnior, desta vez a culpa é minha.

       2. O apelido Dií foi criado pelo Júnior, um diminutivo de André Luís.

       3. Este blog é iniciante, poucas postagens. Quer dizer, não é para o mundo ver agora.

Comentários

  1. Que declaração de amor cheia de realidade e emoção!
    Parabéns para o André, menino literalmente do bem, da paz, que de tão leal aos pais e à família, conferindo orgulho, foi se casai com alguém de sobrenome LEAL.
    Sua vida certamente é o reflexo do bem que espalhar!
    Parabéns André Luiz Sana!

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