NOTAS DE UM REPÓRTER EM EXTINÇÃO

  Roedores parecem disciplinados, andam e correm em mão e contramão; passageiros, assustados, escondem deles dentro dos ônibus; cenas mostram-se vergonhosas somente para itabirano nato totalmente desesperançado sobre o futuro; eles vão bem, queijo à vontade e muito espaço para viver (ver no vídeo e em foto)   Mal circulou na cidade um boato de que a Estação Rodoviária Genaro Mafra seria tombada pelo patrimônio público em dois processos — imaterial, focalizando a presença dos ratos, muito forte, por sinal, e a imundície, algo inacreditável — o desfile de ratos pelo espaço do terminal marcou agitações inacreditáveis. A primeira informação partiu de um ocupante de espaço no tradicional ponto de encontro de cachaceiros ou pinguços tradicionais. “Os ratos os nossos são únicos e intocáveis patrimônios”, vociferou um proprietário de cantina há  55 anos. Ou mais.   RATO EMITE SOM E DÁ AULA DE DANÇA Interessante saber disto: um rato emite “chiado” e  “guincho”. Para comp...

  Filho de Itabira, residente em Ipatinga, vem à cidade e se mostra horrorizado com o que viu No seio de tantos problemas de perdas de amigos e parentes neste feriadão, recebemos uma figura itabirana, preocupadíssima com o futuro da cidade em que nasceu. Sem muito tempo para o giro, visitamos as avenidas Mauro Ribeiro, João Pinheiro e João Soares da Silva, e as ruas Água Santa, Tiradentes e todo o Bairro Pará. Fez-me o amigo uma proposta decorosa: — Mostre-me, por favor, as obras que custaram quase 5 bilhões de reais. — Não temos essa obra, mas lhe apresentarei algumas pracinhas.  Ele se aquiesceu e, depois de passarmos por umas cinco praças, paramos na Dr. Acrísio de Alvarenga, onde proferiu um pequeno e improvisado discurso: — Não, meu amigo, você não me apresentou obras novas, você me mostrou reformas de praças, cujas durações não estarão aqui no dia em que a Vale for embora. Vocês estão sendo tapeados. Não conheço o excelentíssimo senhor prefeito desta nossa cidade, mas el...

  Este pequeno capítulo de minha vida pouco tem a ver com a minha vida. Na verdade traz o nome de quem passou imperceptivelmente para muitos pelo meu caminho, deixou uma marca de bondade e hoje partiu do convívio humano. Estou  me referindo a gente  diferente que deixa muita saudade: Maria da Piedade Pessoa Moreira. Na simplicidade, Fada dos Doces, e na intimidade, Dona Maria do Seu Ninico Motta. Ainda esmiuçando-se a identidade:  marido Antônio Motta Moreira e filho Antônio Celso Pessoa Gonçalves Moreira, ex-prefeito de São Sebastião do Rio Preto por quatro mandatos.   A historinha, valiosa para este escrevinhador, transcorre naquela sexta-feira, 21 de dezembro de 1962, dia chuvoso na região de São Sebastião até Belo Horizonte. Era meia-noite, hora em que Machado de Assis convocava as assombrações e fazia-as desfilar em incontáveis contos e romances. Arrancamo-nos assim da terra natal: um saco de roupa carregando enxoval  reduzido, um guarda-chuva, sap...

 Só permanece às margens, nunca muda de lugar. Nem de  “qualidade” O inesquecível Raimundo Intelecto, que viveu no século XX,  dizia que Itabira se primava pela intelectualidade. Ele se baseava na Vila dos Ingleses, onde se falava o idioma da Inglaterra e dos Estados Unidos e da França, e a cidade era invadida  também por belgas e parisienses.  Co m um balaio de verdura na cabeça, ele cumprimentava as pessoas gentilmente, assim:  — Bonj our, monsieur! Intelecto vendia também frutas e informava aos interessados, principalmente às donas de casa, que no cesto tinham  “uvas e jabuticabas intelectas”, Se aqui vivesse, hoje, Raimundo Intelecto, que se tornou inesquecível na cultura e no folclore itabirano, diria o seguinte: — Mauvaise journée, monsieur ! Des rues pleines de trous et les raisins sont pourris parce qu'ils ne me laissent pas travailler ! (*) E apontaria para as avenidas, ruas e becos, mostrando a buracada que hoje toma conta da cidade.: Além d...